quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Livremente inspirada no conto Josefina, a Cantora - ou o Povo dos Ratos - de Franz Kafka, JOSEFINA CANTA, com texto e direção de Elzemann Neves, estreia dia 16 de janeiro de 2015 no Teatro Augusta - Sala Experimental Com Inês Aranha, Bia Toledo e Germano Melo. JOSEFINA CANTA



“No começo eles eram todos pardos, avermelhados, de
bons rostos e bons narizes bem feitos, mas incapazes de
compreender o que eu cantava. Mas eu os ensinei a
escutar o meu canto, e eu os ensinei a adorar o meu
canto...”


Quando Kafka escreveu o conto Josefina, a Cantora – Ou o Povo dos Ratos, ele criou a figura de uma cantora que inebriava a população, mas cujo canto não passava de um chiado sem talento. Trata-se de uma alegoria construída pelo autor para se referir ao poder totalitário, em especial à ascensão do nazi-fascismo no período anterior à Segunda Guerra.

Livremente inspirada neste conto, Josefina Conta estreia dia 16 de janeiro na sala experimental do Teatro Augusta. Com texto e direção de Elzemann Neves, a montagem tem Inês Aranha, Bia Toledo e Germano Melo no elenco. 

Sinopse
Josefina é uma cantora depauperada depois de tantos séculos de sucesso, mas que ainda exerce um estranho fascínio na população. Com medo de ser esquecida pelo seu povo, ela recebe a ajuda de sua criada e de uma figura da mídia pra reinventar a sua imagem e o seu canto, que talvez não passe de um chiado agudo e estridente. Livremente inspirado em conto de Franz Kafka.

O projeto
Há alguns anos, um colega apresentou esse texto ao dramaturgo e diretor Elzemann Neves (Mão e Pescoço; Amor de Mãe – Parte 13; Desatino; Quando Eu Era Bonita). O projeto, na época, não foi pra frente, mas o conto de Kafka se manteve vivo no seu imaginário.

“Quando voltei ao texto, pude compreender melhor a força de Josefina, a universalidade desse canto vazio, agudo e estridente que é capaz de conduzir uma multidão em direção ao horror do totalitarismo. Adaptá-lo à realidade brasileira parece um ato muito natural quando pensamos que a nossa história foi registrada sempre por várias mãos: mãos estrangeiras e nacionais, mãos que escreveram aquilo que consta dos livros, e mãos de quem viveu e testemunhou os eventos. Muitas mãos impondo a força de suas versões e definindo os eleitos que ficaram - e ficarão – em nossa memória política e social. Essa é a leitura que me instigou a escrever e dirigir esse texto”, diz Elzemann.

Na peça, Josefina é uma cantora depauperada, velha, que já não acredita completamente no poder do seu canto, esse canto que aportou em terras brasileiras, corrompeu os ouvidos nativos, e atravessou os tempos se reinventando para se manter no posto de grande diva. Em crise por acreditar que o povo já não se interessa pela nossa cantora, Josefina recebe a ajuda de sua criada e de uma figura midiática para se reinventar mais uma vez e continuar nos braços do povo. A ironia e o humor quase lírico do conto se misturam com uma linguagem mais antropofágica.

“Como no conto de Kafka, essas três personagens foram construídos de forma alegórica. Na peça não trabalhamos um perfil psicológico linearmente desenvolvido, mas sim o vácuo, o espaço que esses seres representam: o poder, o povo, e a mídia”. A relação que se estabelece entre as personagens é promíscua, elas dependem umas das outras, são tão corruptas quanto corruptoras. Essa dimensão política do texto remete à formação da nossa cultura e na forma como nos relacionamos política e culturalmente”, completa Elzemann.

Hoje e sempre, poder e imagem estão diretamente relacionados, assim como suas eternas plateias. “O momento político atual do país é muito rico, a grande polarização que ficou evidente nas últimas eleições demonstra a vontade do povo em debater essa política, mas não é disso que tratamos aqui, pelo contrário. A peça se preocupa em lançar um olhar sobre a distribuição dos papeis que assumimos dentro da sociedade, hoje ou há 500 anos, e não sobre os eventos políticos atuais”.

Para dar corpo ao projeto, o diretor reuniu um time de parceiros de longa data. Chris Aizner, cenógrafo vencedor do APCA (A Escolha do Jogador, A História do Soldado), do Prêmio FEMSA/Coca Cola, e indicado ao Prêmio Shell de Teatro (Cais, ou da Indiferença das Embarcações, 2013) assina cenário, figurino e objetos.

“O Chris é um grande parceiro. Ao discutirmos o espaço cênico, ele trouxe algumas ideias que foram determinantes no desenho da linguagem: a nossa cantora, Josefina, é um conceito, uma obra de arte a ser desvendada. Nesse sentido, partimos de uma pergunta bem simples: Qual o retrato do Brasil? Essa pergunta permitiu espacializar conceitos e processos que indicam a formação da Memória, da Identidade, e da Arte brasileira até Lina Bo Bardi, que quando da construção do MASP e dos Totens de Vidro por ela desenvolvidos, propunha que o público pudesse visualizar uma obra por todos os lados, inclusive o verso dela, transformando o expectador num sujeito ativo e desejante dessa obra, despertando nele um estado de consciência crítica, distanciada, na medida em que pode analisar a obra sem
nenhuma docilidade ou ilusão”.

Quem dá vida à Josefina é a atriz, diretora, e preparadora de atores Inês Aranha, indicada este ano ao prêmio Aplauso Brasil pela atuação em “A Noite Em Que Blanche Dubois Chorou Sobre Minha Pobre Alma”, de Renato Andrade. “Inês e eu já trabalhamos juntos em diversos projetos, ela já dirigiu dois textos meus, nossa relação é de total confiança. A sua Josefina é de uma complexidade inebriante”.

Bia Toledo e Germano Melo também são parceiros de longa data: Bia trabalhou com o diretor em “Minha Mãe” (2007), adaptação da obra de Georges Bataille; e Germano fez “Mão e Pescoço” (2010) com o diretor, sucesso de público e crítica. “Ter um elenco como esse na construção de Josefina Canta é um privilégio. O jogo que eles estabelecem em cena é vertiginoso”. Outro parceiro é Carmine DʼAmore, que assina o desenho de luz e já trabalhou com o diretor em “Mão e Pescoço”, “Minha Mãe”, e “Desatino”. “Trabalhar com antigos parceiros cria uma rede de confiança, e isso é fundamental numa obra performática, divertida e política como Josefina Canta”.

Ficha Técnica
Texto e Direção: Elzemann Neves
Assistência de direção e
Preparação de elenco: Alexandra da Matta
Elenco: Inês Aranha
Bia Toledo
Germano Melo
Cenário e Figurino: Chris Aizner
Desenho de luz: Carmine DʼAmore
Fotografia: João Valério
Arte gráfica: Adriana Alves
Produção executiva: Mariela Lamberti e Yvone Delpoio

Serviço
Temporada: De 16 de janeiro de 2015 a 29 de março de 2015, no Teatro
Augusta - Sala Experimental.
Sex. 21h:30m; Sáb. 21h; Dom. 19h.
Ingresso: R$ 30,00
Gênero: Comédia
Duração: 70 mim.
35 lugares.
Classificação Indicativa: 14 anos

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