quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Cida Moreira revive estética cabaré na 100ª apresentação do show A Dama Indigna, no Teatro APCD



A cantora e pianista - que está no elenco do filme O que se Move, direção de Caetano Gotardo, concorrendo no 40º Festival de Cinema de Gramado - comemora 100 apresentações de seu novo show. O repertório traz releituras de clássicos de Chico Buarque, Toquinho, Rolling Stones, Tom Waits, Amy Winehouse, George Gershwin e Kurt Weill, entre outros.


Antes de abrir o Festival de Jazz de Ouro Preto, em setembro, ao lado de João Bosco e Romero Lubambo, a cantora e pianista CIDA MOREIRA comemora a 100ª apresentação de A Dama Indigna em único show dia 24 de agosto, sexta-feira, no Teatro APCD. Trata-se da continuidade da turnê que está na estrada desde janeiro de 2011 com o lançamento do CD de mesmo nome, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. Dirigido por Humberto Vieira, marido da artista, o show obteve sucesso de público e crítica e representou uma retomada no estilo que marcou a carreira de Cida em seu primeiro disco, Summertime.

Em A Dama Indigna, Cida revive o formato “piano-voz” que a lançou em 1981 com o disco editado pelo emblemático selo Lira Paulistana, da vanguarda música paulista dos anos 1980. A cantora, que já gravou discos de samba, com bandas completas, aposta no intimismo de um formato solitário em que pode explorar toda sua potência e carisma vocal.

Com sua pegada teatral, Cida Moreira brinca com o charuto, o cálice de conhaque e a rosa vermelha, ícones que dão o tom do espetáculo e preparam o clima para a sequência de canções. “Uma imensa cortina vermelha, vasos com plumas no tom de dourado, tudo na melhor estética do cabaré alemão, do francês e de sua versão brasileira também”, comenta o diretor, sobre o cenário.

No roteiro, o fio condutor é a passagem do tempo. Textos e ações intercalam as músicas. São leituras dramáticas de trechos de obras literárias de Phillip Roth, Cesare Pavese, Bertolt Brecht, Dante Alighieri e do próprio diretor do show. O poema homônimo de Marcelo Fonseca abre o show.

Sozinha no palco, a cantora equilibra entre os dedos charutos e teclas de piano, ao interpretar, de forma personalíssima, canções de compositores como Caetano Veloso, David Bowie, Jards Macalé e Gonzaguinha. Envolvendo-se na fumaça que cheira a Belle Epoque, destila a rouquidão e intensidade de sua voz curtida de álcool entre acordes graves, tangos angustiados e “canções para cortar os pulsos”.

O repertório traz releituras de canções de artistas nacionais e internacionais. A cantora toca baladas, tangos e blues de George Gershwin (The Man I Love), Kurt Weill (Lost In The Stars), Chico Buarque (Uma Canção Desnaturada), Toquinho e Guarnieri (Sou Assim), Renato Barros (Maior Que O Meu Amor), Rolling Stones (Sympathy For The devil), Tom Waits (Lullaby) e Amy Winehouse (Back to Black), entre outros. O show já percorreu Capitais e Interior do Brasil, de Porto Alegre a Belém do Pará.

Sobre Cida Moreira
A atriz, pianista e cantora Cida Moreira iniciou seus estudos em piano na infância, cantando e tocando em programas de rádio. Quando jovem, foi convidada a integrar o grupo teatral Ornitorrinco, em que passou a desenvolver seu estilo próprio de atuar e interpretar, com músicas de Brecht e Weil. Gravou em 1981, Summertime, seu primeiro disco, gravado ao vivo de um show de mesmo nome, em que a artista expõe seu talento na interpretação de clássicos do blues, jazz, bem como composições nacionais, como uma versão censurada de “Geni e o Zepelim”, de Chico Buarque. Mais tarde firmou-se como intérprete ao gravar discos como “Cida Moreira interpreta Brecht”, “Cida Moreira canta Chico Buarque” e “Na Trilha do Cinema”, em que interpreta clássicos de trilha sonora do cinema nacional. Atuou também no cinema e na televisão, em longas como “O Olho Mágico do Amor”, de José Antonio Garcia e “Vila Belmiro”, de Gilson Santos.

Teatro APCD
Novo pólo cultural na Zona Norte de São Paulo, inaugurado no mês de março. O espaço funciona no interior da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD). Com 1.662m², o teatro tem 800 lugares na plateia e 44 lugares distribuídos por dois camarotes. Com projeto arquitetônico de Heitor Coltro, o local possui poltronas vermelhas estofadas, palco de 7 por 6 metros, boca de cena de 16m por 5.80m. Teve temporadas das peças I Love Neide e Na Boca do Leão. Atualmente, tem na programação a comédia Quem É A Fofinha? e o infantil Fazer Arte.

Para roteiro
A DAMA INDIGNA – Com Cida Moreira (piano e vozes). Direção: Humberto Vieira. Direção Musical: Cida Moreira. Única apresentaçãoSexta-feira, 24 de agosto de 2012, às 21h30 no Teatro APCD. Ingressos: R$ 60 (Inteira), R$ 30 (Meia) e R$ 25 (Associados APCD). Capacidade: 800 lugares. Classificação: livre. Duração: 60 minutos.
TEATRO APCD. Rua Voluntários da Pátria 547 – Santana – São Paulo/SP Telefone: (11) 2223-2424  Lotação: 800 lugares. Bilheteria: De quarta-feira a sábado, das 15h às 22h e domingo, das 15h às 20h. Pagamento: Dinheiro ou cheque. Acesso para deficientes físicos. Ar condicionado. Estacionamento no local, coberto e com seguro. A 100 metros da estação do metro Tietê. http://www.apcd.org.br/teatroapcd/

ROTEIRO DO SHOW

CIDA MOREIRA - A DAMA INDIGNA
 
01. Simpaty for the devil (Rolling Stones)
02. Lullaby (Tom Waits)
Texto Pavese – Para que a glória...
03. Maior que o meu amor (Renato Barros)
04. O ciúme (Caetano Veloso)
05. Hotel das estrelas (Jards Macalé e Duda)
       Palavras (Gonzaguinha)
Texto agradecimentos
06. Soul Love (David Bowie)
07. The Man I Love (Ira Gershwin e George Gershwin)
Atitude rosa
08. Me acalmo danando (Ângela Rorô)
Texto Divina Comédia - Dante
09. Sou assim (Toquinho e Gianfrancesco Guarnieri)
10. Mãe (Caetano Veloso)
Atitude charuto
11. Youkali-Tango (Roger Fernay e Kurt Weill)
12. Tango till they’re sore (Tom Waits)
Texto Humberto
13. Summertime (Du Bose Heyward e George Gershwin)
Texto Philip Roth – Presumi...
14. Uma canção desnaturada (Chico Buarque)
15. Lost in the stars (Maxwell Anderson-kurt Weill)
Texto Brecht, Bétulas Negras.
Atitude taça
16. Back to black (Amy Winehouse)

Cesare Pavese
O Ofício de Viver
8 de fevereiro de 1949

Para que a glória seja agradável,
os mortos devem ressuscitar;
os velhos, rejuvenescer;
voltar os que estavam longe.
Sonhamos com ela num pequeno espaço,
entre rostos familiares que para nós eram o mundo
e gostaríamos de ver o reflexo
de nossos atos e palavras
naquele espaço, naqueles rostos.
Que desapareceram, dispersaram-se, morreram.
Não voltarão nunca mais.
E então, desesperados, procuramos ao redor,
tentamos reconstruir o pequeno mundo
que desconhecíamos,
mas do qual gostávamos.
Porém ele não existe mais...
Dante Alighiere
A Divina Comédia – Inferno
1321

Eu acho melhor, para teu bem, que me sigas.
Eu serei o teu guia.
Te levarei para um lugar eterno onde verás
condenados gritando, em vão,
por uma segunda chance.
Depois verás outros que sofrem
contentes no fogo,
pois têm esperança de um dia seguir
ao encontro daquela gente abençoada.
E depois, se quiseres subir ao céu,
lá terás alma mais digna do que eu,
pois o imperador daquele reino
me nega a entrada,
pois à sua lei eu fui rebelde...
Philip Roth
Indignação

Presumi que na vida após a morte
não haveria um relógio, um corpo,
um cérebro, uma alma, um deus – nada,
em qualquer forma ou substância,
a decomposição reinando absoluta.
Não sabia que existiria a lembrança
e muito menos que a lembrança seria tudo.
Nem tenho idéia se minhas recordações
já duram três horas ou um milhão de anos.
Não é a memória que se extingue aqui,
é o tempo.


Bertolt Brecht
Diários de Brecht
31 de agosto de 1920


Os caminhos para a salvação são outros:
e nesse Templo foram deixadas várias paredes vazias,
de propósito, para as fantasias.
Tudo tem lugar nos depósitos,
todas as idéias podem ser acomodadas nos dogmas.
Os bancos são confortáveis.
A lama é utilizada como esterco.
O gado engorda. 
Deus pode ser visto por cima de todos.
O pobre ser humano morre diariamente
inúmeras vezes.
O seguro é válido até a morte.
Ele será pago aos sobreviventes.
E a lua cheia desliza por detrás das bétulas negras...

CIDA
Humberto Vieira
2011

Num braço as canções...
No outro o tempo, marcado.
Tem sido esta a dialética,
trazer comigo ainda as canções,
e elas pesam muito.
E ver as notas a escorrer pelos dedos...
Como também escorre infinitamente
o tempo...
Que meus dedos não conseguem mais reter.
As canções...
O tempo...
Sempre o tempo.

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