A peça traz pela
primeira vez ao Brasil, em um trabalho como atriz, a portuguesa Maria de
Medeiros, conhecida mundialmente por sua atuação no filme Pulp Fiction, de
Quentin Tarantino, e Henry & June, de Philip Kaufman. Em questão, as
mudanças no modelo familiar tradicional
As relações
homoafetivas no mundo contemporâneo e as chamadas novas famílias são o mote para
o espetáculo Aos Nossos Filhos , que estreia dia 7 de
junho, sexta-feira, às 21 horas, no Teatro do Sesc Santana. Com
texto de Laura Castro - que está em cena com a atriz e
cantora portuguesa Maria de Medeiros (Pulp Fiction e Henry & June) e direção de João das Neves -, o tema
encontra sua síntese no embate entre mãe e filha.
A ação se passa na noite em que a
filha conta à sua mãe que vai ter um filho por meio da barriga de sua
companheira. A notícia traz à tona os encontros e os conflitos das duas
gerações. Uma noite de conflito e de encontros é a catarse necessária para duas
mulheres quando uma efetivamente se dá conta que está se tornando mãe e a outra,
avó.
A mãe,
interpretada por Maria de Medeiros, é divorciada, com três casamentos, filhos em
dois deles, mais os enteados. Uma mulher que lutou contra a ditadura no Brasil,
pegou em armas, foi exilada e morou em diversas partes do mundo. A filha,
interpretada pela autora do texto, vive um casamento de 15 anos com outra
mulher, agora grávida do primeiro filho da
relação.
O espetáculo coloca em confronto
duas mulheres, mãe e filha, ambas revolucionárias a seu tempo e tem como pano de
fundo questões como liberdade individual e novas configurações familiares, com
suas consequências, desdobramentos e afetos. A encenação de João das Neves, que
dirigiu o teatro do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos
Estudantes (UNE) até a sua extinção pelo golpe de 1964 e fundou o histórico
grupo Opinião, evidencia o texto como instrumento artístico de reflexão social
importante. O tema se torna relevante no país, refletindo a mudança nos costumes
e nas políticas públicas, como na recente decisão do Supremo Tribunal Federal
que reconhece a união estável de casais homossexuais.
Aos Nossos Filhos nasceu da experiência pessoal da autora, Laura
Castro. Casada há 13 anos com Marta Nóbrega, têm juntas três filhos: Rosa
(gerada por Marta), José (gerado por Laura) e Clarissa (adotada). O casal
participou do programa de TV Novas Famílias, dirigido por João jardim, no
canal GNT.
Maria de Medeiros aceitou participar do projeto por
seu profundo interesse pela temática, além, de outras coincidências.
A atriz e diretora produziu o documentário Repare Bem , que
retrata três gerações de mulheres
afetadas pelas ditaduras brasileira e chilena na década de 1970. Também está
escrevendo um longa-metragem sobre um
casal de homens que deseja ter filhos, nos Estados Unidos, e gravou, em seu
último CD, a canção Aos Nossos Filhos, título da
peça.
Reflexos da sociedade
Com a
recente aprovação da lei que reconhece a união estável de casais homossexuais, o
avanço da sociedade na concepção de família se faz fato jurídico. Tudo isso está
sendo possível também graças à ascensão de uma geração revolucionária em
políticas e costumes. No entanto, a adoção de crianças por casais homossexuais,
apesar de possível, ainda não está regulamentada. É o momento de refletir,
também na arte, essas famílias e suas relações que estão dando uma nova cara ao
País.
Em maio de 2011, foi votado no Supremo Tribunal
Federal o reconhecimento da união estável de casais homossexuais. Esse avanço
político se dá em um momento em que quem está no poder em diversos âmbitos é a
geração dos anos 60, que lutou contra a ditadura e quebrou diversos paradigmas.
No entanto, nas relações familiares, tudo é mais complexo: são justamente os
filhos dessa geração que estão fazendo essa nova revolução privada, compondo
famílias com dois pais ou duas mães, muitas vezes, mais caretas que a de seus
pais. É um espetáculo de conflito de gerações, mas em um mundo contemporâneo
onde os paradigmas e conceitos de família estão bastante ampliados.
Artisticamente, a busca é pela síntese em um teatro de relações que transforma
os personagens e espectadores a partir de um forte conflito.
Sobre João das Neves
Autor, tradutor, diretor, ator e
iluminador teatral. Dirigiu o setor de Teatro de Rua do Centro Popular de
Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE) até 1964, quando a entidade foi
extinta pela ditadura. Ainda em 1964, foi um dos fundadores do histórico Grupo
Opinião. Cursou Prática em Ciências Teatrais na Alemanha, estagiando no setor de
peças radiofônicas da Westdeutscher Rundfunk. Dirigiu óperas contemporâneas como
Continente Zero Hora, de Rufo Herrera e Corpo Santo, de Jorge
Antunes, além de roteirizar e dirigir inúmeros shows da MPB. Escreveu e dirigiu
O Último Carro, ganhador de mais de 20 prêmios, entre eles o Golfinho de
Ouro, Moliére e o prêmio da Bienal Internacional de São Paulo. É autor de
Mural Mulher, Café da Manhã, entre outros. Foi indicado como
melhor diretor ao Prêmio Shell de 2007 (Besouro Cordão de Ouro) e de 2009
(A Farsa da Boa Preguiça).
Sobre Laura Castro
Atriz, cantora, escritora e
produtora cultural. Fez CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), é Bacharel em artes
cênicas pela UNIRIO e sócia da JLM Produções Artísticas. Entre 2005 e 2009, foi
Diretora de Produção do Centro de Referência Cultura Infância. Atuou em
importantes espetáculos, entre os quais: Menininha, direção de João
Cícero, Um Homem Célebre, dirigido por Pedro Paulo Rangel; Bituca - O
Vendedor de Sonhos, direção de João das Neves; Carolina, direção de
Renato Farias; Hans, o Faz Tudo, dirigido por Karen Acioly;
Obrigado, Cartola!, direção de Vicente Maiolino; Elis,
Estrela do Brasil, dirigido por Diogo Vilela; e”, direção de Antônio De
Bonis.
Sobre Maria de Medeiros
Atriz, cineasta e cantora
portuguesa. Considerada a melhor atriz portuguesa de cinema da sua geração, foi
nomeada Artista da UNESCO para a Paz. Passou a infância na Áustria, regressando
a Portugal após 1974. Depois da juventude em Lisboa, onde estudou no Lyceé
Français Charles Lepierre, instalou-se em Paris. Licenciou-se em Filosofia pela
Universidade de Sorbonne - Paris IV, frequentando a École Nationale Superieure
des Arts et Techniques du Théatre e o Conservatoire National d’Art de Paris,
onde se formou como atriz. Iniciou a sua filmografia com o longa-metragem
Silvestre de João César Monteiro (1982), tendo consolidado a sua
atividade com Henry e June (1990), de Philip Kaufman, e Pulp
Fiction, de Quentin Tarantino(1994). Destacam-se, ainda, as suas
interpretações em Três Irmãos, de Teresa Villaverd (1994), que lhe valeu
os Prêmios de melhor atriz no Festival de Veneza e Festival de Cancun; Adão e
Eva, de Joaquim Leitão (1995), que lhe deu um Globo de Ouro na categoria de
melhor atriz, e O Xangô de Baker Street, de Miguel Faria Jr.
Para roteiro:
Aos Nossos Filhos – Estreia dia 7
de junho,
sexta-feira, às 21 horas no Teatro do Sesc Santana. Direção: João das Neves.
Texto: Laura Castro. Elenco: Maria de Medeiros e Laura
Castro. Músico: Filipe
Bernardo. Iluminação: Paulo César Medeiros.
Cenário e Figurinos: Rodrigo Cohen. Programação visual:
André de Castro. Produção Executiva: Renata Peralva. Direção de
Produção: Marta Nóbrega. JLM Produções Artísticas.
Apoio: Embaixada de Portugal / Instituto
Camões. Até 30 de junho. Duração: 90 minutos.
Teatro do SESC
Santana.
Av. Luís Dumont
Villares, 579 – Santana cep 02085-100 – São Paulo – SP. Telefone: (11)
2971-8700. Classificação etária: 14 anos. Temporada: sextas e sábados às 21
horas e domingos às 18 horas. Ingressos: R$24,00, R$12,00 e R$6,00. Horário de Funcionamento: Terça à
Sexta, 10h às 22h. Sábados, domingos e feriados, 10 às 19h. Horário de
Funcionamento Bilheteria: Terça à sábado, 10h às 21h. Sábados, domingos e
feriados, 10 às 19h. E-mail para atendimento ao público: email@santana.sescsp.org.br
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