Roberto Alvim dirige Paula Cohen
e Joca
Andreazza em Invasor(es)
Com ação
ambientada no campo, durante a época das chuvas, a peça trata da complexidade
das relações afetivas entre um homem e uma mulher
Uma cidade alagada, a ameaça de um acampamento que
cresce a cada dia e o embate iminente de nativos e
capangas a mando de patrões. Nessa topografia, um homem e uma mulher vivem uma
história de afeto dissimulado e dependência mútua. Com texto inédito de
Beatriz Carolina Gonçalves e direção de Roberto Alvim, a peça
Invasor(es) estreia dia 17 de maio, sexta-feira, às 21
horas, no Espaço Cênico do Sesc Pompeia.
Paula Cohen e Joca Andreazza dão vida aos personagens, em
diálogos ágeis, permeados por vazios, que deixam ao espectador a tarefa de
preencher as lacunas, relacionando as informações e desvendando as relações
subterrâneas ao discurso.
A ação se passa no campo, onde vivem Ele e Ela. Durante a época das
chuvas, o volume das águas de uma represa local ameaça inundar as plantações. Um
grupo de fazendeiros da região decide então abrir as comportas da represa,
inundando a cidade que fica rio abaixo. Além das consequências do ato
irreversível, um acampamento amedronta os donos da terra. É nesse contexto
violento e perigoso, acuados pela presença inesperada de um intruso, que os
personagens revelam sua história.
A autora incorpora as rubricas ao texto
dramático e estabelece uma base lógica entre um dilema moral, ou a ausência
dele, diante da cumplicidade com a violência e o torpor que acomete os
personagens. Em 2010, devido às chuvas, as represas em várias partes do Estado
estavam em seu nível máximo. Li num blog que, numa cidade do Interior, a
população se organizou e abriu as comportas do reservatório local. O ato ficou
na minha cabeça e deu origem ao argumento da peça, explica a
autora.
Para o diretor Roberto Alvim, a trama flutua entre aspectos políticos
e psicanalíticos. Um casal proprietários de um latifúndio defende-se da ameaça
de invasão por locais, ao mesmo tempo em que, fechados em uma casa de fazenda
claustrofóbica, vivem imersos em uma relação doentia, carregada de tensão
sexual. A relação de posse termina mergulhando ambos em uma vertigem de memórias
e emoções contraditórias.
A peça está focada na relação que mantém unidos os personagens, mas a
violência do entorno não deixa de dar cor à ação.
Acho extremamente oportuno discutir a violência no campo e a degradação do
meio-ambiente, pois são questões urgentes, e pouco discutidas em nossa
literatura dramática. Mas que ninguém espere um texto político. A história gira
em outra chave: a do afeto, rejeição e dependência entre os personagens, diz a
autora.
A
montagem
A encenação de Alvim procura desvelar essas possibilidades e
confrontar o espectador com o fato de que a esfera política e o campo do
inconsciente se misturam de modo inseparável. Trata-se de questões
eminentemente atuais, ligadas à luta travada diariamente em nosso país, já há
muito tempo. Embora trafegue por um caráter social urgente, também alcança temas
ligados à posse e à proteção daquilo ou daqueles que supostamente nos pertencem.
Aliás, quem é o invasor nesta obra?, questiona o diretor.
A montagem segue a linha minimalista com a qual o diretor vem
trabalhando. O cenário, assinado a quatro mãos por Simone Mina e Roberto Alvim,
traz poucos elementos cênicos que remetem a uma casa de fazenda: uma cabeça de
boi, troncos de madeira pelo chão, uma cadeira, um back light ao fundo.
Alvim foca o trabalho dos atores na palavra e na força do texto, na
imobilidade corporal e na penumbra que filtra o olhar da plateia, ora permitindo
e ora impedindo o público de ver as expressões faciais dos atores. Ali está
projetada uma estrutura do inconsciente. Procuramos nos colocar no lugar
existencial em que a autora estava no momento da escritura,
conclui.
Sobre o diretor Roberto Alvim
Roberto
Alvim é
dramaturgo, diretor e professor de Artes Cênicas. Lecionou Dramaturgia e
História do Teatro em instituições como a Universidade de Córdoba (Argentina), a
Escola Livre de Teatro (SP) e a Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio de
Janeiro, além de ministrar oficinas de dramaturgia em diversos Estados, a
convite do MinC. Foi Diretor Artístico do Teatro Carlos Gomes (RJ), de 2001 a
2004, e do Teatro Ziembisnki (RJ), em 2005. É coordenador do Núcleo de
Dramaturgia do SESI de Curitiba. Atualmente reside em São Paulo, onde dirige,
desde 2006, a companhia Club Noir, dedicada a encenar obras de dramaturgos
contemporâneos. Foi vencedor do Prêmio BRAVO! Prime de Melhor Espetáculo do ano,
em 2009, com a peça O Quarto, de Harold Pinter e Prêmio
Especial da APCA 2012 (Associação Paulista dos Críticos de Arte) pelo projeto
Peep Classic Ésquilo.
Sobre a
autora Beatriz Carolina
Gonçalves
Beatriz
Carolina Gonçalves é
jornalista e dramaturga. Nos anos 90, fez parte do Núcleo dos 10, grupo de
estudos em dramaturgia coordenado por Luis Alberto de Abreu. Em 2002 integrou o
Programa de Residência Internacional do Royal Court Theatre, um dos mais
importantes centros voltados à dramaturgia contemporânea, sediado em Londres.
Entre os textos que escreveu para o teatro estão Esvaziamento (direção de
Luiz Valcazaras, 2007); Umzé, escrita com subvenção do Royal Court
Theatre e apresentada em Londres (2004) e no Brasil (direção de Helio Cícero,
2007), e A Fedra (direção de Suzana Aragão, 2006), contemplada com o
Fomento para Circulação de Espetáculos Teatrais, apresentada em São Paulo e em
doze cidades do interior paulista.
É
curadora de programas na área de jornalismo, arte e literatura, entre eles
Sarau de ideias, Da Semana de 22 ao Mangue Beat, Ideias Onlin,
Arte Contemporânea e Cultura Digital, Humor & Companhia, O Humor na Mídia e
nas Artes, Jornalismo Literário, Radiografia Cultural: Periferia e
Underground em SP, apresentados em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e em
várias cidades do país, pelo Centro Cultural Banco do
Brasil.
Sobre Paula Cohen
Atriz,
formada pela Escola de Arte Dramática (EAD/USP). Entre os inúmeros espetáculos
em que atuou, destacam-se Arena Conta Danton (direção
Cibele
Forjaz), Suburbia
(Francisco
Medeiros), Antes do
Café (Celso
Frateschi),
Tartufo (José
Rubens Siqueira), Cleide
Eló e as Peras
(Gustavo
Machado), Navalha
na Carne (Pedro
Granato), A Noite Mais Fria do Ano (Rubens Paiva), Hamlet Máquina
(Dimiter Gotscheff), A Doença da Morte (Márcio Aurélio). Na TV,
participou dos humorísticos Sob Nova Direção (2004), Retrato
Falado (2004) e Dias de Glória (2002), pela Rede Globo, e também da
novela Canavial das Paixões, exibida pelo SBT, em 2002. No cinema, atuou
nos curtas Parabéns (2005), Ímpares (2003) e Let's Try to
Forget (2000), e nos longas Avassaladoras (2002) e Por Trás do
Pano (1999).
Sobre
Joca Andreazza
Ator,
pesquisador, educador, diretor e tradutor. Em sua carreira como ator destacam-se
os espetáculos: Aqui Não, Pantaleão (1989), A Bilha Quebrada
(1993), Os Lusíadas (2002), como narrador do espetáculo, e Agreste
(2004) que recebeu os prêmios Shell e APCA de melhor texto, além de sua
indicação de melhor ator para o prêmio Shell e Prêmio Qualidade Brasil de 2004
(categoria drama); Anatomia Frozen (2009), prêmio Cooperativa Paulista de
Teatro de Melhor Elenco. Participou de todos os festivais internacionais no
Brasil com a peça Agreste e esteve representando o país como convidado do
Festival de Teatro a Mil (no Chile, 2005) e em Berlim na Copa Cultural (2006).
Apresentou-se com aulas-espetáculo sobre Charles Baudelaire na Livraria da Vila e na Casa das
Rosas em 2009 comemorando o ano da França no Brasil. Em 2012 participou da
Mostra de Comemoração dos 20 anos da Cia Razões Inversas com as peças A Bilha
Quebrada, de Heinrich Von Kleist, A Ilusão Cômica, de Pierre
Corneille, Agreste, de Newton Moreno e Anatomia Frozen, de Briony
Lavory. Em 2012, recebeu o prêmio APCA de Melhor Ator pelas peças A Ilusão
Cômica e A Bilha Quebrada.
Para
roteiro:
INVASOR(ES)
Estreia dia 17 de maio,
sexta-feira, no Espaço Cênico do Sesc
Pompeia. Autor: Beatriz Carolina Gonçalves. Direção e Iluminação: Roberto Alvim. Assistente de Direção: Marcelo Rorato. Elenco: Paula Cohen e Joca Andreazza. Direção de Produção e
Administração: Texto Intermídia /
Assessoria de Comunicação e Produção Cultural. Produção Executiva: Eliane Sombrio. Trilha Sonora: Fabrício Cardial. Assessoria de Imprensa: Arte Plural
Fernanda Teixeira. Fotografia: Arnaldo Pereira. Registro em Vídeo: Vanderlei Gussonato. Designer: Rodrigo Sommer. Acompanhamento Gráfico: Ricardo Santos.
SESC
Pompeia Rua
Clélia, 93 Pompeia Telefone: (11) 3871-7700.
Temporada: De 17 de maio a 7
de julho. Sextas e sábados às 21 horas, domingo às 19hs. Ingressos:
R$ 16,00 (inteira); R$ 8,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60
anos, estudantes e professores da rede pública de ensino). R$ 4,00 (trabalhador
no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes). Recomendação etária: 16 anos. Capacidade: 50 lugares.
Duração: 50 minutos.
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