No centenário de
Nelson Rodrigues, é remontado espetáculo – que ganha versatilidade com pesquisas
envolvendo tragédias gregas, pintura expressionista e a literatura de Eugene
O’Neill. Entre as novidades, foi incluída uma nova canção para o
coro de vizinhos - Opereta do Moribundo, de Chico Buarque e Edu Lobo.
A montagem faz
temporada na ininterrupta programação do Teatro do Núcleo
Experimental
O Teatro do Núcleo Experimental está se
consolidando como um dos novos polos culturais de São Paulo. O local já teve
temporadas de As Troianas - Vozes da
Guerra, Bichado e Mormaço. Aproveitando o centenário de
Nelson Rodrigues, Zé Henrique de Paula revista mais um dos sucessos de seu
repertório. Senhora dos Afogados reestreia
dia 31 de agosto às 21 horas.
Sob o prisma das
paixões humanas, a obra do icônico dramaturgo brasileiro recebeu uma adaptação
musical e pesquisa que une a tragédia Electra (de Ésquilo) a uma paráfrase da
obra Electra Enlutada (de Eugene O'Neill), além do visual
expressionista do pintor norueguês Edvard Munch.
O texto, escrito por
Nelson Rodrigues em 1947, foi proibido no ano seguinte e estreou somente em
1954. Quase toda a ação se passa em torno do velório da menina Clarinha, filha
de Misael e Dona Eduarda Drummond. Mas é um outro cortejo fúnebre que abre o
espetáculo – um coro de mulheres do cais rezam para manter viva a memória de uma
prostituta morta há 19 anos, exatamente no dia do casamento de Eduarda e Misael.
A relação entre esses velórios será revelada ao longo da peça, que nessa
montagem está ambientada no século XIX.
Cinco anos de
depois
O diretor Zé Henrique
imprime novo frescor para a trama que montou em 2007. “Essa oportunidade de
remontar a peça para a comemoração dos 100 anos do Nelson ofereceu a
possibilidade de olharmos o espetáculo com distanciamento, rever as opções
originais e amadurecer as interpretações. Nessa montagem foi incluída uma nova
canção, para o coro de vizinhos - Opereta
do Moribundo, de Chico Buarque e Edu Lobo.”
Durante a peça, onze
canções brasileiras têm a função de revelar o que se passa no íntimo dos
personagens. Destaque para Pedaço de
Mim, Acalanto, À Flor da Pele, Viver do Amor, de Chico Buarque, e A Ilha, Ventos do Norte de Djavan, entre outras.
As músicas atuam como porta-vozes dos desejos e fluxos de pensamento e ganham
novos significados quando costuradas à ação dramática. A direção musical é de
Fernanda Maia, que já fez várias parcerias com Zé Henrique em espetáculos como
As troianas - Vozes da Guerra e Canção de Amor em Rosa. “Temos uma
parceria de 20 anos e uma sintonia de trabalho excelente, fundamental para a
criação da concepção musical das peças. Em Senhora dos Afogados, as canções servem
como veículo para expressar o mundo interior das personagens, todo o não-dito no
texto do Nelson”, diz Zé Henrique.
Visual e Influências de
tragédias
Durante a pesquisa, o
diretor reuniu o universo da tragédia grega de Ésquilo e a obra de Eugene
O’Neil, além do expressionismo do pintor norueguês Edvard Munch. “A utilização
das referências pictóricas é um mote constante na preparação dos atores no
Núcleo Experimental. Para Senhora dos
Afogados, toda a obra de Edvard Munch serviu como referência para a
construção corporal dos personagens, além de ser a principal fonte de inspiração
para a estética da peça, que inclui cenário, luz e figurinos. Os elementos
trágicos estão presentes na sobriedade e na solenidade imposta aos personagens
da família Drummond.”
Apesar dos universos
diferentes de Nelson Rodrigues e Edvard Munch, ambos trabalharam com os mesmos
temas em suas obras. Como Nelson, o pintor era um artista de obsessões, voltando
recorrentemente aos temas da vida, amor, morte e melancolia. Ele calculava suas
composições de modo a criar uma atmosfera tensa, que refletisse mais o estado de
espírito e as condições psicológicas do que uma realidade exterior. A peça foi
transposta para o final do século XIX, numa proposta de reforçar a tensão entre
moral e desejo, entre impulso sexual e repressão.
Zé Henrique também
falou das características que marcam a encenação desse seu trabalho. “Gosto das
peças míticas do Nelson, que fogem do real, que remetem a um mundo governado por
forças ancestrais a atávicas. Estabelece-se nesses espetáculos um jogo
absolutamente teatral, o que nos ofereceu a possibilidade de experimentar
exatamente o diálogo entre a dramaturgia de Nelson e as canções que povoam a
trama.”
Sobre o diretor Zé Henrique de
Paula
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo
pela Universidade Mackenzie e pós-graduado em Artes Cênicas pela Escola de
Comunicação e Artes da USP. Foi assistente do cenógrafo J.C. Serroni em Nova
Velha Estória e Trono de Sangue. Dirigiu A Comédia dos Erros, Judas em Sábado de
Aleluia, É 20! As Folias do Século, Revelação, Noite de Reis, Naked Boys
Singing, O Despertar da Primavera, R&J, Mojo, Side Man, Novelo, além das
peças do repertório do Núcleo Experimental: Senhora dos Afogados, Cândida, As
Troianas – Vozes da Guerra, O Livro dos Monstros Guardados, Casa/Cabul e O
Contrato. Atuou em O Jovem Hamlet, A Comédia dos Erros, É 20! As Folias do
Século, Mojo, Camaradagem e Amargo Siciliano. Indicado ao Prêmio Shell em 2009 e
2010, como Melhor Diretor, por As Troianas – Vozes da Guerra e Side Man,
respectivamente. Neste ano, recebeu duas indicações ao Prêmio Shell 2012, pelo
figurino de L’Illustre Molière e pelo cenário de
Bichado.
Ficha técnica
SENHORA DOS AFOGADOS – Reestreia dia 31 agosto,
sexta-feira, no Teatro do Núcleo Experimental. Texto:
Nelson Rodrigues. Direção: Zé
Henrique de Paula. Direção Musical:
Fernanda Maia. Elenco: Tony Giusti
(Misael), Einat Falbel (D. Eduarda), Bárbara Bonnie (Moema), Thiago Carreira
(Paulo), Paulo Cruz (Noivo), Lourdes Giglioti (Avó), Fábio Redkowicz (Vizinho),
Caio Salay (Vizinho), Luciana Ramanzini (Vizinha), Thiago Ledier (Vizinho),
Alexandre Meirelles (Sabiá), Rodrigo Caetano (Vendedor de Pentes). Coro de Mulheres do Cais: Bibi
Piragibe, Cy Teixeira, Gabriela Germano, Lara Hassum, Natasha Sonna. Preparação de atores: Inês Aranha. Cenografia e figurinos: Zé Henrique de
Paula. Assistente de figurinos: Cy
Teixeira. Iluminação: Fran Barros.
Músicos: Fernanda Maia (piano) /
Eduardo Sato (violoncelo). Assessoria de
Imprensa: Arte Plural – Fernanda Teixeira. Produção: Claudia
Miranda.
Para roteiro
Reestreia dia 31 de agosto, sexta-feira, às 21h no Teatro do Núcleo
Experimental, na Rua Barra Funda, 637. Temporada – Até 1 de
outubro. De sexta a segunda - sextas, sábado e segunda às 21h. Domingos às
19h. Ingresso: R$ 30 – Às sextas-feiras, os ingressos são gratuitos.
Retirar com uma hora de antecedência. Duração: 100 minutos. Capacidade – 50 lugares. Censura: 12 anos.
Bárbara Bonnie - Foto de Kit Gaion
Bárbara Bonnie - Foto de Kit Gaion
Bárbara Bonnie e Lourdes Gigliotti
Foto de Kit Gaion
Einat Falbel e Tony Giusti
Foto de Bibi Piragibe
Senhora dos Afogados2
Foto de Henrique Grohmann
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