A cantora e pianista - que está
no elenco do filme O que se Move, direção de Caetano Gotardo, concorrendo no 40º
Festival de Cinema de Gramado - comemora 100 apresentações de seu novo show. O
repertório traz releituras de clássicos de Chico Buarque, Toquinho, Rolling Stones, Tom Waits, Amy Winehouse,
George Gershwin e Kurt Weill, entre
outros.
Antes de abrir
o Festival de Jazz de Ouro Preto, em setembro, ao lado de João Bosco e Romero
Lubambo, a cantora e pianista CIDA
MOREIRA comemora a 100ª apresentação de A Dama Indigna
em
único show dia 24 de agosto, sexta-feira, no Teatro APCD.
Trata-se da continuidade da turnê que está na estrada desde janeiro de 2011 com
o lançamento do CD de mesmo nome, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.
Dirigido por Humberto Vieira, marido da artista, o show obteve sucesso de
público e crítica e representou uma retomada no estilo que marcou a carreira de
Cida em seu primeiro disco, Summertime.
Em A Dama
Indigna, Cida revive o formato “piano-voz” que a lançou em 1981 com o disco
editado pelo emblemático selo
Lira Paulistana, da vanguarda música paulista dos anos 1980. A cantora, que já
gravou discos de samba, com bandas completas, aposta no intimismo de um formato
solitário em que pode explorar toda sua potência e carisma
vocal.
Com sua pegada
teatral, Cida Moreira brinca com o charuto, o cálice de conhaque e a rosa
vermelha, ícones que dão o tom do espetáculo e preparam o clima para a sequência
de canções. “Uma imensa cortina vermelha, vasos com plumas no tom de dourado,
tudo na melhor estética do cabaré alemão, do francês e de sua versão brasileira
também”, comenta o diretor, sobre o cenário.
No roteiro, o
fio condutor é a passagem do tempo. Textos e ações intercalam as músicas. São
leituras dramáticas de trechos de obras literárias de Phillip Roth, Cesare Pavese, Bertolt Brecht,
Dante Alighieri e do próprio diretor do show. O poema homônimo de Marcelo
Fonseca abre o show.
Sozinha no
palco, a cantora equilibra entre os dedos charutos e teclas de piano, ao
interpretar, de forma personalíssima, canções de compositores como Caetano Veloso, David Bowie, Jards Macalé
e Gonzaguinha.
Envolvendo-se na fumaça que cheira a Belle Epoque, destila a rouquidão e
intensidade de sua voz curtida de álcool entre acordes graves, tangos
angustiados e “canções para cortar os pulsos”.
O repertório
traz releituras de canções de artistas nacionais e internacionais. A cantora
toca baladas, tangos e blues de George
Gershwin (The Man I Love), Kurt Weill (Lost In The Stars), Chico
Buarque (Uma Canção Desnaturada), Toquinho e Guarnieri (Sou Assim),
Renato Barros (Maior Que O Meu Amor), Rolling Stones (Sympathy For
The devil), Tom Waits (Lullaby) e Amy Winehouse (Back to
Black), entre outros. O show já percorreu Capitais e Interior
do Brasil, de Porto Alegre a Belém do Pará.
Sobre Cida Moreira
A atriz, pianista e cantora Cida Moreira iniciou seus
estudos em piano na infância, cantando e tocando em programas de rádio. Quando
jovem, foi convidada a integrar o grupo teatral Ornitorrinco, em que passou a
desenvolver seu estilo próprio de atuar e interpretar, com músicas de Brecht e
Weil. Gravou em 1981, Summertime, seu primeiro disco, gravado ao vivo de
um show de mesmo nome, em que a artista expõe seu talento na interpretação de
clássicos do blues, jazz, bem como composições nacionais, como uma versão
censurada de “Geni e o Zepelim”, de Chico Buarque. Mais tarde firmou-se
como intérprete ao gravar discos como “Cida Moreira interpreta Brecht”, “Cida
Moreira canta Chico Buarque” e “Na Trilha do Cinema”, em que
interpreta clássicos de trilha sonora do cinema nacional. Atuou também no cinema
e na televisão, em longas como “O Olho Mágico do Amor”, de José Antonio
Garcia e “Vila Belmiro”, de Gilson Santos.
Teatro APCD
Novo pólo cultural na Zona Norte de São Paulo,
inaugurado no mês de março. O espaço funciona no interior da Associação Paulista de
Cirurgiões-Dentistas (APCD). Com 1.662m², o teatro tem 800 lugares na
plateia e 44 lugares distribuídos por dois camarotes. Com projeto arquitetônico
de Heitor Coltro, o local possui poltronas vermelhas estofadas, palco de 7 por 6
metros, boca de cena de 16m por 5.80m. Teve temporadas das peças I Love Neide e Na Boca do Leão. Atualmente, tem na
programação a comédia Quem É A Fofinha?
e o infantil Fazer
Arte.
Para roteiro
A
DAMA INDIGNA –
Com Cida Moreira (piano e vozes). Direção: Humberto Vieira. Direção
Musical: Cida Moreira. Única
apresentação – Sexta-feira, 24 de agosto de 2012, às 21h30 no
Teatro APCD. Ingressos: R$ 60
(Inteira), R$ 30 (Meia) e R$ 25 (Associados APCD). Capacidade: 800 lugares. Classificação: livre. Duração: 60
minutos.
TEATRO APCD. Rua Voluntários da Pátria
547 – Santana – São Paulo/SP Telefone: (11) 2223-2424 Lotação: 800 lugares.
Bilheteria: De quarta-feira a sábado, das 15h às 22h e domingo, das 15h às
20h. Pagamento:
Dinheiro ou cheque. Acesso para deficientes físicos. Ar condicionado.
Estacionamento no local, coberto e com seguro. A 100 metros da estação do metro
Tietê. http://www.apcd.org.br/teatroapcd/
ROTEIRO DO SHOW
CIDA MOREIRA - A DAMA INDIGNA
01. Simpaty for the devil (Rolling
Stones)
02. Lullaby (Tom Waits)
Texto
Pavese – Para que a glória...
03. Maior que o meu amor (Renato
Barros)
04. O ciúme (Caetano Veloso)
05. Hotel das estrelas (Jards
Macalé e Duda)
Palavras (Gonzaguinha)
Texto agradecimentos
06. Soul Love (David Bowie)
07. The Man I Love (Ira Gershwin e George
Gershwin)
Atitude
rosa
08. Me acalmo danando (Ângela
Rorô)
Texto Divina Comédia - Dante
09. Sou assim (Toquinho e Gianfrancesco
Guarnieri)
10. Mãe (Caetano Veloso)
Atitude
charuto
11. Youkali-Tango (Roger Fernay e Kurt
Weill)
12. Tango till they’re sore (Tom
Waits)
Texto Humberto
13. Summertime (Du Bose Heyward e George
Gershwin)
Texto Philip Roth – Presumi...
14. Uma canção desnaturada (Chico
Buarque)
15. Lost in the stars (Maxwell Anderson-kurt
Weill)
Texto Brecht, Bétulas Negras.
Atitude
taça
16. Back to black (Amy Winehouse)
Cesare
Pavese
O Ofício de
Viver
8 de
fevereiro de 1949
Para que a
glória seja agradável,
os mortos
devem ressuscitar;
os velhos,
rejuvenescer;
voltar os
que estavam longe.
Sonhamos
com ela num pequeno espaço,
entre
rostos familiares que para nós eram o mundo
e
gostaríamos de ver o reflexo
de nossos
atos e palavras
naquele
espaço, naqueles rostos.
Que
desapareceram, dispersaram-se, morreram.
Não
voltarão nunca mais.
E então,
desesperados, procuramos ao redor,
tentamos
reconstruir o pequeno mundo
que
desconhecíamos,
mas do qual
gostávamos.
Porém ele
não existe mais...
Dante
Alighiere
A Divina Comédia – Inferno
1321
Eu acho
melhor, para teu bem, que me sigas.
Eu serei o
teu guia.
Te levarei
para um lugar eterno onde verás
condenados
gritando, em vão,
por uma
segunda chance.
Depois
verás outros que sofrem
contentes
no fogo,
pois têm
esperança de um dia seguir
ao encontro
daquela gente abençoada.
E depois,
se quiseres subir ao céu,
lá terás
alma mais digna do que eu,
pois o
imperador daquele reino
me nega a
entrada,
pois à sua
lei eu fui rebelde...
Philip
Roth
Indignação
Presumi que
na vida após a morte
não haveria
um relógio, um corpo,
um cérebro,
uma alma, um deus – nada,
em qualquer
forma ou substância,
a
decomposição reinando absoluta.
Não sabia
que existiria a lembrança
e muito
menos que a lembrança seria tudo.
Nem tenho
idéia se minhas recordações
já duram
três horas ou um milhão de anos.
Não é a
memória que se extingue aqui,
é o
tempo.
Bertolt
Brecht
Diários de Brecht
31 de
agosto de 1920
Os caminhos
para a salvação são outros:
e nesse
Templo foram deixadas várias paredes vazias,
de
propósito, para as fantasias.
Tudo tem
lugar nos depósitos,
todas as
idéias podem ser acomodadas nos dogmas.
Os bancos
são confortáveis.
A lama é
utilizada como esterco.
O gado
engorda.
Deus pode
ser visto por cima de todos.
O pobre ser
humano morre diariamente
inúmeras
vezes.
O seguro é
válido até a morte.
Ele será
pago aos sobreviventes.
E a lua
cheia desliza por detrás das bétulas negras...
CIDA
Humberto
Vieira
2011
Num braço as canções...
No outro o tempo, marcado.
Tem sido esta a dialética,
trazer comigo ainda as canções,
e elas pesam
muito.
E ver as notas a escorrer pelos
dedos...
Como também escorre
infinitamente
o tempo...
Que meus dedos não conseguem mais
reter.
As canções...
O tempo...
Sempre o
tempo.