Com influência de Kazuo Ohno e
do
esporte, Andreia Yonashiro dança
no
Centro da Cultura Judaica e Galeria
Olido
O universo do mestre do teatro butô japonês é
retratado
pela intérprete. Na segunda performance, dois bailarinos
dançam coreografia inspirados nos jogos
esportivos
A bailarina e coreógrafa
Andreia Yonashiro (que dirigiu ao lado de Morena Nascimento os espetáculos
Clarabóia, 2010, e Estudos para Clarabóia, 2013) mostra duas coreografias do seu
repertório em apresentações em São Paulo. As performances A
Flor Boiando Além da Escuridão e Ginástica Selvagem serão
apresentadas juntas, uma seguida da outra, dias 3 e 4 de outubro, quinta
e sexta, às 20h30, no Centro da Cultura
Judaica e de 10 a 13 de outubro, quinta a sábado, às 20h e domingo,
às 19h, na Galeria Olido. Os
espetáculos tem duração, respectivamente, de 35 e 45 minutos. De
graça.
Bailarinos
esquecidos e coreografias revolucionárias inspiram a criação de A
Flor Boiando Além da Escuridão, criado e dirigido por Joana Lopes, com interpretação solo de
Andreia Yonashiro e composição
musical de Zeka Lopez. O espetáculo
estreou em 2008 no evento em homenagem ao centenário de Kazuo Ohno (1906-2010), promovido pela Universidade
de Bolonha, com curadoria de Eugenia Casini Ropa. A diretora traz de volta à cena trechos de
algumas personagens
femininas que habitaram os 100 anos de poesia do mestre do teatro butô, Kasuo
Ohno: La Argentina (1932), Mary Wigman (1927) e Kazuo Ohno dançando La
Argentina.
Na segunda parte do programa, Andreia Yonashiro apresenta a
coreografia Ginástica Selvagem, criada por ela
em parceria com os bailarinos Robson Ferraz e Edson Calheiros. O espetáculo traz
jogos coreográficos entre dois homens que também partem de princípios da dança
moderna, porém, deslocando a sua relação tradicional com a música. Sua trilha
sonora é composta por recortes musicais que não estão associados à dança,
traçando um questionamento que remonta aos embates que geraram as grandes
revoluções recentes na dança cênica, da modernidade à contemporaneidade.
Os
espetáculos são fruto do encontro do Cerco Coreográfico (grupo de Andreia
Yonashiro) e o Teatro Antropomágico (de Joana Lopes). O intuito é criar um espaço de produção que
investiga como a coreografia pode ser entendida nos dias atuais e aliada
à tradição da dança moderna, que influenciou os mais importantes bailarinos do
Século 20.
A
parceria entre as artistas, que começou em 2002, busca trabalhar novos
paradigmas para as formalidades coreográficas. “Fui convidada para ser bailarina de A Flor Boiando Além da Escuridão e já
vinha de uma formação alinhada com o trabalho do Teatro Antropomágico, que propõe uma dramaturgia para dança.
Nossa parceria revê a noção tradicional de coreografia, pois trata de estados de
energia que se materializam em movimento”, explica Andreia
Yonashiro.
As duas obras, que estão no
mesmo programa, são criações individuais em tempos diferentes, com estéticas
diferentes, mas existe uma fundamentação comum, que é a releitura das relações
entre a arte e a ciência.
A Flor Boiando Além da Escuridão
Uma mulher transita entre a luz e a escuridão interpretando
personagens femininas que habitaram os 100 anos de poesia do bailarino japonês
Kazuo Ohno (1906-2010): La Argentina
(1932), Mary Wigman (1927) e Kazuo Ohno Dançando La Argentina. A
interpretação da bailarina revela uma visão filosófica e artística da dança
moderna japonesa influenciada pelo expressionismo alemão das primeiras décadas
do século 20.
O
espetáculo recupera as coreografias para depois transformá-las em pequenos
fragmentos expressionistas que instigaram Kazuo Ohno a desafiar suas
tradições cênicas milenares. “É uma inflexão na minha história de criação
artística. Reuni referências que são partes da dança e do teatro com a essência do expressionismo para criar a coreodramaturgia, interpretada por
uma bailarina-atriz num campo de luz e
sombra, quando vive uma única personagem inspirada em Kazuo Ohno”, fala a
diretora Joana Lopes.
A
composição musical original de Zeka Lopez é uma releitura do clássico Amapola, da década de 20, dançado por
Kazuo Ohno. Apenas um corpo nu e um lenço japonês são suficientes para vestir o
personagem transformado em outros por Andrea Yonashiro - que
recebeu recentemente os prêmios Klauss
Vianna 2013 e Fomento à Dança 2012 (por Clarabóia) e Prêmio Klauss Vianna 2012
(por Erosão).
“Não desejamos reproduzir as coreografias de Kazuo Ohno nem a
filiação à escola de Butô, um gênero de dança iniciado por ele, mas levá-lo à
cena percorrendo caminhos de luz e sombra de devaneios e dores”, completa a
diretora.
![Âncora Âncora](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_s6h1r1Ir6ZXdDg-ZdDl7FSmbR6GfXD6aQGA67hpR8zsqSBF6uWFLxCK5GD5WDby35gaaZGBzITn-7VXHwBVVe0gXd8EeQhLdbJ4CI2I0-bR9w_SHO22bnDPDSJegCSPYxTqlmNR5K_yxrcuhRp=s0-d)
O
espetáculo foi apresentado no
SESC Pinheiros (2007), Teatro da USP (2008), Centro Coreográfico do Rio de
Janeiro (2008), Sala Crisantempo (ensaio aberto com Tadashi Endo,
2010), Festival Vértice de Teatro em Florianópolis (2010) e SESC Consolação
(2011). Atualmente realiza um projeto de circulação contemplado pelo Edital
Proac da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.
Ginástica Selvagem
Em Ginástica
Selvagem, dois homens executam movimentos simples que são
coreografados por meio de jogos, trazendo à cena o espírito dos jogos
esportivos. Cada momento propõe desafios coreográficos. Eles se afastam e se
aproximam, gerando o brilho na pele com o suor que evidencia a forma de cada
músculo que trabalha. E assim, evocando uma sensação narrativa que retrata as
possibilidades de contato e intimidade entre dois homens.
Para a coreógrafa e
diretora Andreia
Yonashiro, “tudo parte de uma ideia
muito simples de ver o movimento de aproximação e afastamento de dois homens e o
espaço vazio entre eles. Grande parte da dança acontece no silêncio, ela é
cortada por músicas, mas o ritmo da trilha não define o ritmo da dança. A
organização detalhada da dança não está pautada na música, mas num estudo
detalhado do movimento”.
Os
movimentos foram criados em um processo colaborativo de estudo. A coreografia
não repete a forma visível dos passos de dança, mas organiza um conhecimento de
como o movimento pode ou não acontecer. “É como num jogo de futebol, as
trajetórias dos jogadores nunca são as mesmas, mas mesmo assim, não deixa de ser
futebol. Então, os movimentos são criados pelos bailarinos a cada dia de
apresentação, mas respeitando uma organização composicional da dança”, fala a
diretora.
O cenário é uma linha amarela fluorescente (sinalizadora de perigo)
que remete a uma quadra esportiva. As meias e camisetas brancas do figurino,
tingidas pelas cores de uma projeção luminosa, lembram uniformes esportivos. Mas
estes indícios são recortados por músicas e uma projeção de formas geométricas
coloridas que fazem com que as relações criadas não sejam tão óbvias. De
repente, a mesma camisa branca quase vira um pijama que traz um ar intimista de
um quarto, ou uma música evoca memórias da infância.
O espetáculo foi apresentado na FUNARTE São Paulo (2012), Espaço
Parlapatões (2011) e sua versão multimídia na Galeria Olido, Casa das Rosas e
CCJ Ruth Cardoso. Atualmente realiza um projeto de circulação contemplado pelo
Edital Proac da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.
Sobre Andreia
Yonashiro
Nasceu em São Paulo, SP, 1982. Vive e
trabalha em São Paulo. Iniciou seus estudos em balé em escolas de São Paulo e
dança moderna com Ruth Rachou na adolescência, ao mesmo tempo em que treinava e
competia no Brasil e Estados Unidos a patinação artística sobre gelo. Ao
frequentar cursos com os artistas Paulo Monteiro, José Resende, Iran Espírito
Santo entre outros, iniciou uma produção em artes visuais.
Em 2001 realiza sua Exposição
Individual no Centro Cultural São Paulo e logo em seguida inicia o curso de
dança na Universidade Estadual de Campinas. Lá, aprofunda seus estudos sobre
as técnicas de dança e sua relação com a composição coreográfica,
dedicando-se à criação e à pesquisa. Teve dois projetos de pesquisa financiados
pelo CNPq na área de arte e ciência investigando uma releitura das
propostas de Rudolf Laban a partir da topologia, e do Modelo Padrão da Matéria,
tendo os Porf. Dr. Adolfo Maia e a Profa. Joana Lopes como
orientadores.
Cruzando as influências de seu percurso
assimétrico, nos últimos 10 anos tem atuado como bailarina, diretora/coreógrafa
e professora, destacando seus trabalho: criação e direção de
Clarabóia e Estudos para clarabóia (2010-2012) ao
lado de Morena Nascimento (Prêmio Klauss Vianna 2013, Fomento à Dança 2012 e
eleito melhor espetáculo de dança no Guia da Folha de 2012);
Tempest - criação coreográfica a convite e em parceria com Daniel
Fagundes (Prêmio Cultura Inglesa 2012); concepção e direção de
Erosão ao lado de Robson Ferraz (Prêmio Klauss Vianna 2012);
Um leite Derramado (BIenal SESC de Dança 2009); Toró
(2009), performance e instalção multimídia; entre outros,
tendo ainda vencido o quadro Dança no Gelo, TV Globo, ao
lado de Leandro do KLB, como patinadora, em 2008. Fundou em 2013 sua plataforma
de produção Cerco COREOGRÁFICO.
Sobre Joana
Lopes
Diretora teatral e dramaturga fundadora
do Teatro Antropomágico. Ela é autora de livros e artigos no Brasil e exterior,
entre eles “Coreodramaturgia: uma dramaturgia para dança”.
“Pega-teatro – um estudo antropológico sobre o jogo
dramático”. Entre suas criações de espetáculos, destacamos “Pra
Weidt o velho” realizado com Atelier de Bailarinos
Santistas para a Bienal Internacional SESC de Dança - 2007. Ex-professora do
Departamento de Artes Corporais da Unicamp (1987 – 2007) e ex-professora
visitante do Departamento de Musica e Espetáculo da Universidade de Bolonha
(1992 – 2002).
Sobre Robson
Ferraz
É artista, pesquisador e arte-educador
graduado em dança pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em seus
últimos trabalhos, transita por diferentes abordagens da criação cênica como
estratégia de reconhecimento do seu campo investigativo: as relações entre
corpo, identidade e sexualidade. Seus trabalhos recentes 2010-2012
(Pistilo, Ginástica Selvagem e Erosão) resultam de
uma parceria com a coreógrafa Andreia Yonashiro. Foi contemplado com o Prêmio
Funarte Klauss Vianna 2011, Proac LGBT e Co-patrocínio de Primeiras Obras (CCJ)
2010. Entre 2006 e 2009 atuou na Borelli Cia de
dança.
Sobre Edson
Calheiros
Iniciou os estudos de dança e teatro em
1994. Atuou como intérprete nas companhias Corpos Nômades e
Borelli. Criou em 2005 o solo Recluso c.3.3. e em 2006 o
duo Desculpe o Transtorno. Estreou em 2008 o solo Memorial
do quarto escuro, com direção de Nana Pequini, e Our Love is like
the flowers, the rain, the sea and the hours. Trabalha atualmente em
parceria com Robson Ferraz na Associação Desvio de dança. É mestrando em
Artes da Cena no Instituto de Artes da Unicamp.
Ficha técnica:
A Flor Boiando Além da
Escuridão.
Coreodramaturgia
e direção: Joana Lopes. Interpretação: Andreia Yonashiro. Composição, releitura da música Amapola e
arranjos: Zeka Lopez. Desenho de luz e figurino: Joana Lopes. Projeto técnico e implantação de luz:
André Boll Fotografia: Inaê Coutinho. Realização: Teatro Antropomágico e
Cerco COREOGRÁFICO. Duração: 35
minutos. Classificação: 12
anos.
Ginástica Selvagem.
Direção
e coreografia: Andreia Yonashiro. Elenco: Edson Calheiros e Robson
Ferraz. Cenário e projeção em vídeo:
Andreia Yonashiro. Música: Edson
Calheiros, Robson Ferraz e Andreia Yonashiro. Fotografia: Edi Fortini e Priscilla
Davanzo. Realização: Associação
Desvio e Cerco COREOGRÁFICO. Duração: 45 minutos. Classificação: 12
anos.
Para Roteiro:
A FLOR BOIANDO ALÉM DA
ESCURIDÃO
e GINÁSTICA
SELVAGEM
– Espetáculo de dança formado por duas
coreografias.
Dias 3 e 4 de outubro - Centro da Cultura Judaica -
Rua Oscar Freire, 2.500 –
Sumaré - São Paulo. Telefone -
3065-4333. Temporada - Quinta e
sexta às 20h30. Local - Teatro.
Capacidade – 296 lugares. Ingressos – Grátis – retirar com 1 hora
de antecedência.
De 10
a 13 de outubro
- Galeria Olido –
Avenida São João, 473 – Centro – São Paulo. Telefone - 3331-8399 / 3397-0171. Temporada - Quinta
a sábado, às 20h e domingo, às 19h. Local - Sala Paissandu. Capacidade – 236 lugares. Ingressos - Grátis – retirar com 1 hora de antecedência.